Era capaz de ouvir a voz dos elementos e dos elementais, entendia a linguagem das plantas e dos animais. Sentia-se renascer com o raiar do sol e ser abraçada pela luz da lua a cada anoitecer.
A donzela tinha tudo, pois não tinha nada. Ela e os seus apenas pegavam o que precisavam, sem exageros, sem posses. Sem dor ou desnecessárias mortes.
Quando pela primeira vez, alguém disse “é meu!” Tomando para si o que lhe era desnecessário, iniciou-se a separação desse povo e a natureza.
Lentamente, deixaram de ouvir as vozes da natureza. Os animais se tornaram perigosos, as plantas descartáveis, os elementos, coisas a serem exploradas e povo começou a se dividir. A donzela vendo a decadência de seus irmãos e sentindo no próprio corpo as chagas que eram abertas na natureza, chorou e gritou. Pediu que parassem com aquilo.
Ela continuou chorando e gritando até o fim, até suas forças se esgotarem.
Até os dias atuais seu povo ouve os gritos dela, como se vindos da própria alma. Aqueles que se atentam a esses gritos, passam a atentar para as vozes da natureza. Voltam a entender a linguagem das plantas e dos animais, voltam a sentir os elementos dentro de si e ao seu redor.
Então, lembrando-se que são partes de todo, eles começam a gritar junto da donzela e, assim, fazem com que mais membros desse povo passem a ouvir a voz do mundo de que fazem parte.
E enquanto continuam gritando, porque sabem que a cada novo grito, renova-se a esperança de melhora. A mesma esperança que nunca morreu, no coração da donzela.
Fim.
Essa imagem não me pertence. Caso conheçam seu autor, me avisem para que lhe dê os devidos créditos.