domingo, 23 de maio de 2010

A Dama das Flores. - Cap. V

De repente ela se sentiu vazia, as lágrimas pararam, os soluços ficaram engasgados na garganta ferida pelos gritos. Sentiu como se uma lâmina fria atravessasse seu peito. Temendo saber a resposta, falou baixinho, em um sussurro, como se isso modificasse seu peso.
- Devo matá-lo, meu senhor.
- Sim, vil traidora, deves matá-lo e trazer-me todos os seus quadros, para que possamos queimá-los juntos. - Ela sentiu seu coração parar. Não podia acreditar que teria toda a obra feita em sua homenagem, sua definitiva imortalidade destruida pelas chamas. - Sim, minha ratinha desonesta, queimaremos esses quadros e, junto deles, a sua traição. - Parou de acariciar os fios verde-petróleo.

- Agora, pode se levantar. Faça o que veio fazer aqui e não volte a meu aposento sem os quadros do seu amante.
Respirou fundo, ainda de joelhos, sem conseguir levantar, sentindo como se algo tivesse quebrado dentro de si. Passaram-se alguns momentos até que ela conseguisse se levantar. O soberano assistia a tudo impassível como uma estátua de mármore. Andou a passos trôpegos até onde parecia haver um corpo humano.
Parou alguns segundos, para olhar a garota que estava encolhida naquele canto, a cabeça baixa. Tremia de medo ou de frio? Driade não saberia dizer. Estava nua, com algemas e correntes douradas prendendo seus membros. A fada se aproximou, buscando voltar a forma fria que possuía antes de entrar ali e tocou as costas da garota que lhe olhou com um pavor profundo. Era loira, de cabelos curtos e lisos, olhos grandes e castanhos. A garota de quem tinha roubado a aparência na noite anterior. Fez com que ela se levantasse e destrancou as correntes em seus pés, permitindo que a humana andasse. Viu o corpo coberto por manchas roxas e cicatrizes, provocadas pela violência de seu mestre ao se aproveitar daquela jovem. Ele podia se divertir com humanos e era cruel ao fazê-lo. Jogou uma manta negra nas costas da garota e começou a guiá-la por uma porta lateral daquela sala.
Essa era sua função, devia levar lindas humanas para que seu mestre desfrutasse. Então aproveitava para roubar suas roupas e aparências, usando-as para se encontrar com seu adorador humano. Era unir o útil ao agradável.
Guiou a garota por um túnel íngreme até que saíssem no meio da floresta. Estava de noite e a garota não devia conseguir ver nada.

- O-o que vão fazer comigo? - Sua voz tremia e ela apertava a manta negra em volta do corpo.
A fada suspirou, entendiada, empurrando a garota para que fosse em frente. A segunda etapa de seu trabalho era livrar-se das garotas, fez com que a garota andasse até cair de joelhos, exausta, ela chorava, suplicando piedade, sua voz estava fraca e apática.
- Por favor, eu já não posso mais, por... Favor.
Dríade quase sentiu pena daquela criatura, tão frágil e indefesa. Sua vida era tão breve quando um piscar de seus olhos mágicos. Humanos não eram importantes, eram malditos seres poluidores e artesãos de ferro. Eram todos idiotas, todos fracos, todos... Afundou as garras na coluna vertebral da garota. A morte foi instantânea e sem dor. Talvez algum dia algum companheiro dela a encontrasse, mas isso não era importante.
Voltou-se para seu caminho mantendo a expressão fria em sua face, sua próxima missão era matar a única criatura que já havia lhe admirado. Essa era a parte fácil, a difícil seria destruir todas as obras em sua homenagem.

Continua...

Um comentário:

  1. ISSO! MINHA PARTE PREFERIDA! SOFRA, SUA SUJOCRÉIA!
    Ó DIA FRABULOSO!

    ResponderExcluir