Estava sentado a mesa, tomando o café-da-manhã quando a porta de sua casa foi abruptamente aberta.
- Giovanni? Giovanni?! Acorda vagabundo! - A voz grave invadiu a casa, fazendo a cabeça do pintor doer ainda mais.
- Beto, tô na cozinha. - Respondeu, elevando a voz o mínimo necessário.
Logo a imagem de seu amigo, um homem negro de porte atlético, popularmente chamado de "armário", apareceu na porta da cozinha.
- Cara, cê tá nas tripas! Ressaca é? - O visitante puxou a cadeira em frente à do pintor e sentou. - Foi pra farra ontem? - Mantinha a mostra um sorriso de dentes brilhantes e não diminuia o tom de voz.
- Porra, cala a boca. - O loiro lançou um olhar mortal ao amigo. - Sim, estou de ressaca, não, não fui pra farra.
- Ué, deu pra encher a cara sozinho?
Roberto era o típico brasileiro, alegre e farrista, estava na faixa dos 30 anos e era sócio de uma boate no Rio de Janeiro. Ele e Giovanni se conheceram no colegial, e mantiveram a amizade desde então.
- Ah, cara, não enche, não tô bem. - O pintor era conhecidamente azedo e isso parecia multiplicar-se exponencialmente em seu atual estado. - Você sabe muito bem o que me deixa assim.
- Ah, foi ela? - Perguntou o amigo, ignorando a ofensa do outro.
- Claro que foi ela! - Respondeu, irritado com a lerdeza do outro.
- Porra, cara, assim não dá! Toda vez que você se encontra com essa mulher você
termina assim, essa garota te droga, não é possivel. - Ele demonstrava verdadeira preocupação pelo amigo.
- Não, cara, ela não me droga e não é uma mulher ou uma garota...
- Ih, não sabia dessa sua preferência, não, cara. - Não resistiu a implicar.
- Não venha falar de mim, quando o público da "Ninfotopia" é reconhecidamente GLS. - Retrucou Giovanni, antes de tomar mais um gole do café forte em sua xícara.
- Isso é um jogo, cara, esse público dá uma boa grana! - O sorriso voltou ao rosto de Roberto, que mexeu as sombrancelhas de forma marota.
- Quem te conhece que te compre. Quando estiver pronto pra assumir, pode deixar que não vai abalar nossa amizade. - O café já fazia efeito, melhorando seu estado, e implicar com o amigo sempre lhe fizera bem.
- Ha-ha-ha, continue pintando, que como comediante seu futuro é trágico. Mas e essa aí, como você chama ela? Thaleia? - O outro apenas acenou em concordância. - Não sabe nem o nome... Enfim se não é mulher, nem homem, o que seria?
- Ela não é que ela não seja uma mulher, ela não é humana... É uma musa, uma deusa, um ser mági...
- Tô falando que ela te droga, olha aí, tá viajando. - Interropeu o outro. - Daqui a pouco tá por aí gritando que acredita em fadas.
- Não, amigo, de seres purpurinados em minha vida me basta você. - respondeu, encarando um dedo do meio em riste como retribuição. Giovanni abriu um sorriso vitorioso, antes de continuar. - Cara, eu sei que parece loucura, mas você se lembra de como era antes. Meus desenhos não tinham nada de especiais, eram péssimos...
- Não eram péssi...
- Não me interrompa, sim, eram péssimos. Até que eu a conheci, numa noite, lá no Rio. Ela apareceu como uma morena linda, de uns 20 e poucos anos, areia de mais pro meu caminhãozinho de estudante do colegial de 17 anos. Mas a gata se interessou em mim e a gente ficou, foi uma noite incrivel, cara! Mas ela, como sempre, sumiu antes de que eu acordasse, deixando uma flor vermelha na cama, e eu acordei com uma puta inspiração e fiz o meu primeiro desenho digno.
- Uma morena usando uma roupa colada, com um arco-íris em volta, bem gay, eu lembro.
Preferiu deixar o comentário do amigo passar e continuar a explicação.
- Desde então ela torna a aparecer, a forma é sempre diferente, mas a flor e a sensação é sempre a mesma.
- Cara, eu ainda acho que isso é doideira, uma garota que muda de forma? É o sonho de qualquer cara, mil mulheres em uma.
- Estou falando sério, lembra que não tava conseguindo desenhar nada? - O outro apenas confirmou com a cabeça. - Olha isso. - puxou a o bloco de folhas, que havia deixado na bancada da cozinha, e mostrou o desenho, que havia feito mais cedo.
- Uou, que gracinha! É, tá confirmado. - O negro manteve o silêncio por um tempo, fazendo o amigo acreditar que ele tinha se convêncido. - Você precisa de sexo pra desenhar bem, essa foi a de ontem?
O loiro abaixou a cabeça, como que desistindo de explicar algo ao amigo.
- Essa foi a forma de ontem. - Roberto revirou os olhos ao ouvi-lo insistir no papo de magia. - Cara, presta atenção, eu já transei com várias outras mulheres, mas só com ela isso acontece.
Não era prepotência ou orgulho. A combinação pintor, mais inteligente, mais culto, mais rico, fazia-o ter um charme especial, mesmo que não seguisse nenhum padrão de beleza e fosse sarcástico ao extremo, muitas mulheres se interessavam por ele. E um solteiro de 25 anos, aproveitava, claro.
- Aham, claro, várias outras mulheres. Valeu cara, se você acha que tem uma musa mágica te inspirando, vai nessa, se te faz feliz.
- Enfim, você veio aqui por algum outro motivo alem de gritar no meu ouvido e quadruplicar minha dor de cabeça? - Perguntou Giovanni, massageando as temporas.
- Hãn? Ah, sim. Vim perguntar se topa uma cavalgada antes de voltarmos pra cidade?
- Cara, esse clube tá te fazendo mal.
- Blá, fresquinho, o ar das montanhas vai é te fazer bem! Tá com medo de eu te deixar pra trás e você se perder nas montanhas? Bora, viado, vamos deixar nossas coisas lá na Parada do Pastel. cavalgamos até o escorrega, damos um mergulho pra purificar nossa energia...
- Você não entendeu nada... - Debochou do amigo enquanto comia uma maçã com a esperança de que a mesma não resolvesse voltar, devido ao enjôo.
- Não brinca com o que não conhece. - Ralhou o negro, apertando o pingente de ferro, em formato de adaga, que trazia pendurado por uma corrente.
- E você conhece, né, sua bicha? - Cheque-mate.
- Ah, cala a boca. Enfim, depois voltamos, comemos algo em Maringá mesmo e pegamos o ônibus.
O loiro ainda ficou ponderando por um tempo. Estava um dia bonito, não muito quente e a região de Visconde de Mauá era realmente belíssima, capaz de inspirar qualquer um a criar das mais belas obras de arte. Por fim, aceitou a proposta do amigo, indo arrumar suas malas e se preparar para o passeio.
Quando terminou o amigo já o esperava do lado de fora da residência, montado em um imenso cavalo de pelo castanho e olhos num curioso tom de verde, com uma égua branca, um pouco menor, do lado.
Seguiram para o seu útilmo dia naquela temporada nas montanhas e aproveitaram para pegar os telefones de duas cariocas. Elas estavam passando as férias ali e cursavam o penúltimo período da faculdade de biologia.
Continua... Cachoeira do Escorrega - Maringa -RJ/MG
CONTINUA. ¬¬
ResponderExcluir*-WHIPLASH- CHICOTADA PARA TRABALHAR*
Isso tá escrito há tempos. Quero material inédito, INÉDITO! QUERO SANGUE, TRIPAS! MOOORTE! *gargalhada fatal*
Sério, mor. Tô ansioso. o.o
boa historia
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