domingo, 16 de maio de 2010

A Dama das flores - Cap. IV

O sol já tornava a se pôr quando a fada acordou, apesar de não ser possivel saber isso por meios comuns naquele lugar. Sentia-se bem descansada e sem a menor vontade de levantar de sua cama confortável. Espreguiçou-se e levantou, sabia que não devia enrolar muito mais ali. Vestiu uma túnica leve, cor de creme, uma calça justa na cor verde-musgo e colocou uma couraça marrom, feita do tronco de alguma árvore, que fechava em sua cintura e ombros. Depois calçou botas que pareciam de montaria, feitas de um material escamoso e brilhante, num tom bruxuleante de dourado. Terminou calçando luvas de teias de aranha, com imensas garras de diamante em cada ponta de dedo. Estava pronta.
Saiu de seu quarto, atravesando as várias tiras de tecido furta-cor que só poderiam ser transpassadas com a sua prévia autorização. Seguiu em frente até o fim do corredor, onde uma imensa porta de madeira vermelha se erguia até o alto da parede. Em cada lado dela estava um guarda usando uma armadura parecida com a do capitão, apenas sem a ave dourada no peito. A fada abriu um sorriso cruel, que pareceu rasgar os cantos de sua boca.
- Abram a porta, queridinhos, ele não gosta de esperar. - Sua voz era fria e cruel, parecia ter se tornado outra pessoa.
Os guardas não demoraram a acatar a ordem, abrindo a imensa porta como se fosse feita de papel. A fada entrou calmamente no imenso salão de pedra, iluminado por estranhos cristais que davam ao ambiente um tom azulado.
- Você demorou. - Uma voz branda, de sexo indefinido, chegou até ela, vinda do fundo do aposento.
- Perdão, meu senhor, pensei ter mandado que voltasse em dois dias. - Respondeu subservente, como não era com nenhum outro ser.
- Aproxime-se.
Ela sentiu um tremor gelado percorrer seu corpo diante da ordem. Mas acatou, como não poderia deixar de ser, andando lentamente até o fundo do salão. Lá, sentado em um imenso trono, ricamente esculpido no cristal, estava um ser totalmente alvo. Andrógeno, usando uma longa túnica branca como a neve, de pele pálida e cabelos cor de sal. A única cor estava nos olhos, lábios e unhas, que eram de um vermelho vivo e brilhante. Dríade se ajoelhou aos pés da criatura, muito próxima deste.
- Deite sua cabeça em meu colo. - Ele tornou a ordenar, a voz era carinhosa, mas a enchia de pavor, a boca mal se mexia para formar palavras.
Sem ter alternativa, apoio sua cabeça nas pernas de seu sobrerano, sentindo um frio dominá-la, quando ele começou a passar a mão magra e delicada em seus cabelos.
- Minha pequena criança, por que teimas em me desobedecer?
- Mas eu não... Eu jamais quis desagradá-lo, meu senhor. - Respondeu, a voz tremendo, revelando o medo que a possuía.
- Não? Claro, que não! Você me serve lealmente, certo Dríade? - A mão continuava a passar pelos cabelos da fada, desembaraçando os pequenos nós.
- Sempre, meu senhor.
- Jura por seu nome que só me conta a verdade?
Sentiu um nó formar-se em sua garganta, não poderia negar um juramento ao seu mestre. Porém o que as fadas tinham de mais valioso eram seus nomes, ele era sua essência, sua vida e sua liberdade, quem soubesse o nome verdadeiro de uma fada teria total controle sobre ela. Jurar por seu nome era algo sem volta, fadas jamais podiam descumprir sua palavra, aquela poderia ser sua ruína. Engoliu em seco, preparando-se para o que poderia ser seu fim.
- Juro, juro pelo meu nome, meu senhor. - Respondeu por fim, rendida.
- Então, minha linda fada da floresta, conte-me, aonde vai quando foges do meu território?
Sentiu o impulso de mentir, de negar, mas sabia que era impossivel, seu próprio corpo lhe traia pelo poder do juramento e as palavras deslisaram por seus lábios da forma menos perigosa possivel.
- Ao mundo humano, meu senhor.
A mão em seu cabelo ficou pesada, puxando os fios, temeu o que aconteceria, mas a pressão parou e o lorde continuou a acariciar lhe de forma fatalmente lenta.
- O que vais fazer entre os homens, minha criança?
Ele parecia sibilar, aumentando seu terror quando as palavras pareciam correr para fora de seu corpo, os tratamentos gentis pareciam zombarias veladas. Como odiava que caçoassem dela.
- Me divertir, meu senhor.
Novamente um puxão em seus cabelos, doloroso o suficiente para confirmar o risco que corria, insuficiente para que gritasse de dor. Logo em seguida as carícias continuavam, como sempre foram.
- Como você, tão bela fada, diverte-se em um mundo sem cores como aquele?
Seu coração batia rápido, ela sentia-se começar a suar e nada nos gestos do ser que a punha em tal estado demonstrava que ele se preocupava, ou ao menos sabia, do que fazia com ela.
- Eu... Me divirto interagindo com eles, dançando com eles, seduzindo-os e os embriagando com minha magia, meu senhor.
- Sabes que isso é errado, não é minha cara? Não é errado mexer com os mortais?
- Sim. É, meu senhor.
Sua sentença estava dada, sua morte seria ali, sem piedade. Mordeu as bochechas para não gritar com o novo puxão de cabelo e sentiu o gosto azedo de seu sangue mágico cobrir sua língua.
- Você tem um favorito, minha ninfa desobediente?
O carinho voltara, suavizando a dor da ultima agressão e fazendo com que seus olhos queimassem, devido as lágrimas de terror, que ela não permitia cair.
- Tenho, sim, meu senhor. Aaah!
Não pode conter o grito, quando sentiu alguns fios se soltarem devido a novo puxão. Sentia sua nuca dolorida pela tortura.
- E por que ele é seu favorito, minha serva desleal?
A voz não mudava de tom, continuava carinhosa e afável, era impossivel prever o próximo movimento dele. Respirou fundo, tentando ganhar tempo, mas isso só serviu para receber um novo puxão, mas forte e agressivo que os outros, levantando sua cabeça e forçando-a para trás. Ela queria mentir, queria omitir, queria negar, queria não falar nada, mordeu a língua procurando engolir as palavras. Em vão, gritou a resposta em um voz sofrida, apertando os olhos para não chorar.
- Porque ele me ama e adora! Porque faz quadros em minha homenagem! Ele me venera e faria qualquer coisa por mim, meu senhor!
O puxão parou e ela sentiu a cabeça voltar ao colo gelado, a mão tornar a acariciar lhe, tornando impossivel conter as lágrimas que correram abundantes por sua face.
- Você está com medo de mim, Dríade?
- Sim, meu senhor. - As lágrimas, uma vez libertas, corriam ininterruptas, engrolando sua fala.
- Você deseja o meu perdão?
- Sim, meu senhor.
- Faria qualquer coisa para recuperar meu amor por ti, certo?
- Sim, meu senhor!
- Então, sabes o que terás de fazer, minha doce assassina?

Continua...

Um comentário:

  1. ESSA FADINHA DO BARULHO VAI CURTIR ALTAS TORTURAS COM ESSE MESTRE DA PESADA!
    OAHOAHOAHAOHAOAHOAH, ADOREI... CONTINUA... ¬¬
    *WHIPLASH*

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